Ao entrar em seu ano 51, a Revolução Cubana segue dividindo opiniões. Para uns, trata-se de uma ditadura que priva seus cidadãos do direito à livre iniciativa política e econômica. Para outros, é um exemplo de desenvolvimento social e resistência a um injusto embargo comercial.
É fato, por exemplo, que a maioria dos cubanos vive com um salário ao redor de US$ 1 por dia. Isso poderia levar a crer que eles vivem em profunda miséria, mas não é o que acontece. O governo garante meios básicos para a subsistência a todos os cidadãos por meio de produtos vendidos a preços subsidiados em lojas estatais nada atraentes para um estrangeiro: a variedade é pouca, e a qualidade dos produtos fica aquém do que estamos acostumados no Brasil.
A comida é suficiente para que ninguém passe fome, mas a qualidade e a variedade são desanimadoras. Mesmo nos restaurantes – todos estatais, com exceção de alguns pequenos estabelecimentos familiares que o governo autorizou durante a crise desencadeada pela queda do Muro de Berlim – há pouco mais que arroz, feijão, batatas, carne de frango ou porco e duas ou três variedades de vegetais.
É no mercado negro que o cubano que tem acesso a dólares - normalmente obtidos de parentes que emigraram, do trabalho com turismo ou em alguma atividade ilegal - se abastece de bens de consumo e, sabendo onde comprar, há de tudo que se possa imaginar.
Basta caminhar pela rua para ver que os cubanos se vestem com roupas que as lojas do Estado não vendem, como tênis de marcas conhecidas internacionalmente
Duas moedas
O problema é que o mercado paralelo vive de dólares ou pesos conversíveis -moeda criada pelo governo que equivale a aproximadamente US$ 1.
Isso mesmo: Cuba tem duas moedas – o peso conversível, com valor alto, usado por turistas e pelo o mercado negro, e o peso cubano, usado pelo Estado para pagar os trabalhadores, que vale muito pouco (o peso conversível vale cerca de 25 vezes o cubano).
O resultado é que todos só querem saber do peso conversível. “Aqui precisamos nos virar para conseguir dinheiro”, conta Yolanda*, uma enroladora de charutos que desvia parte do que produz para vender a turistas.
Ela vive num prédio em péssimas condições de conservação no centro de Havana e corre riscos para conseguir algum dinheiro que lhe permita comprar, por exemplo, produtos de higiene pessoal em falta nos mercados populares.
Caminhando pelos arredores da casa de Yolanda, assim como por toda a capital cubana, é possível ver que a revolução, se cumpriu a promessa de garantir moradia a todos os habitantes, não o faz de forma muito satisfatória: grande parte das residências, pela estado de deterioração em que se encontram, facilmente passariam por cortiços.
Ainda assim, ouvindo a desenvoltura com que Yolanda, uma operária de fábrica de tabaco, discorre sobre seu trabalho e a situação do país, assim como conversando com outros cubanos pelas ruas, fica claro que o regime de Fidel atingiu sua meta de dar educação básica a toda a população.
O país erradicou o analfabetismo (segundo dado da agência de inteligência americana, a CIA, 99,8% dos habitantes maiores de 15 anos sabem ler, contra 88.6% do Brasil). Todos têm educação gratuita e, ainda segundo a CIA, o cubano, em média, vai à escola dois anos a mais que o brasileiro.
O sistema educacional, aliado ao atendimento de saúde amplo e irrestrito, coloca Cuba 32 posições à frente do Brasil no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que calcula e compara o bem-estar de populações de diferentes países do mundo.
Mídia
Educação, no entanto, não é sinônimo de informação. A mídia em Cuba ainda é totalmente controlada pelo governo. A TV estatal não dá lugar a vozes dissidentes e, além das novelas brasileiras, das quais os cubanos são grande fãs, exibem horas de programação com forte carga ideológica, como debates em que todos os participantes elogiam o governo ou outras formas de propaganda, como, por exemplo, tele-aulas de música em que se aprende a execução de canções como a Internacional Comunista.
Na clássica Rádio Relógio, emissora que transmite o noticiário e a hora certa a cada minuto, predominam notas oficiais - informações sobre medidas do governo ou a agenda do presidente Raúl Castro. O "Granma", maior jornal do país e porta-voz do Partido Comunista Cubano, reproduz seus discursos na íntegra.
“Tenho acesso a duas horas de internet por mês na minha universidade”, conta Javier*, um estudante de tecnologia de comunicações. “Dizem que é por motivo de segurança, mas não vejo muito bem que segurança seria essa”, comenta, numa tímida crítica ao controle que o governo faz da informação, que acaba fazendo de Cuba, mais que nunca, uma ilha. Bloqueios a sites específicos, como o buscador Google, são constantes, conta o universitário.
Javier conseguirá se formar engenheiro mesmo com seu pai ganhando US$ 25 por mês. O jovem parece conformado com o fato de que, uma vez com o diploma na mão, terá um salário equivalente a uma pequena fração do que teria em outro país. “Vamos esperando até que me paguem o quanto realmente vale meu trabalho”, diz.
Raúl Castro, pouco a pouco, vai ocupando o lugar do irmão. Muitos estabelecimentos públicos hoje ostentam a foto do novo presidente, mas não removeram a de Fidel, eterno líder da Revolução, que também enfeita o cartaz oficial de celebração do jubileu de ouro da derrubada de Fulgencio Batista.
*os nomes são fictícios
FONTE: G1
É fato, por exemplo, que a maioria dos cubanos vive com um salário ao redor de US$ 1 por dia. Isso poderia levar a crer que eles vivem em profunda miséria, mas não é o que acontece. O governo garante meios básicos para a subsistência a todos os cidadãos por meio de produtos vendidos a preços subsidiados em lojas estatais nada atraentes para um estrangeiro: a variedade é pouca, e a qualidade dos produtos fica aquém do que estamos acostumados no Brasil.
A comida é suficiente para que ninguém passe fome, mas a qualidade e a variedade são desanimadoras. Mesmo nos restaurantes – todos estatais, com exceção de alguns pequenos estabelecimentos familiares que o governo autorizou durante a crise desencadeada pela queda do Muro de Berlim – há pouco mais que arroz, feijão, batatas, carne de frango ou porco e duas ou três variedades de vegetais.
É no mercado negro que o cubano que tem acesso a dólares - normalmente obtidos de parentes que emigraram, do trabalho com turismo ou em alguma atividade ilegal - se abastece de bens de consumo e, sabendo onde comprar, há de tudo que se possa imaginar.
Basta caminhar pela rua para ver que os cubanos se vestem com roupas que as lojas do Estado não vendem, como tênis de marcas conhecidas internacionalmente
Duas moedas
O problema é que o mercado paralelo vive de dólares ou pesos conversíveis -moeda criada pelo governo que equivale a aproximadamente US$ 1.
Isso mesmo: Cuba tem duas moedas – o peso conversível, com valor alto, usado por turistas e pelo o mercado negro, e o peso cubano, usado pelo Estado para pagar os trabalhadores, que vale muito pouco (o peso conversível vale cerca de 25 vezes o cubano).
O resultado é que todos só querem saber do peso conversível. “Aqui precisamos nos virar para conseguir dinheiro”, conta Yolanda*, uma enroladora de charutos que desvia parte do que produz para vender a turistas.
Ela vive num prédio em péssimas condições de conservação no centro de Havana e corre riscos para conseguir algum dinheiro que lhe permita comprar, por exemplo, produtos de higiene pessoal em falta nos mercados populares.
Caminhando pelos arredores da casa de Yolanda, assim como por toda a capital cubana, é possível ver que a revolução, se cumpriu a promessa de garantir moradia a todos os habitantes, não o faz de forma muito satisfatória: grande parte das residências, pela estado de deterioração em que se encontram, facilmente passariam por cortiços.
Ainda assim, ouvindo a desenvoltura com que Yolanda, uma operária de fábrica de tabaco, discorre sobre seu trabalho e a situação do país, assim como conversando com outros cubanos pelas ruas, fica claro que o regime de Fidel atingiu sua meta de dar educação básica a toda a população.
O país erradicou o analfabetismo (segundo dado da agência de inteligência americana, a CIA, 99,8% dos habitantes maiores de 15 anos sabem ler, contra 88.6% do Brasil). Todos têm educação gratuita e, ainda segundo a CIA, o cubano, em média, vai à escola dois anos a mais que o brasileiro.
O sistema educacional, aliado ao atendimento de saúde amplo e irrestrito, coloca Cuba 32 posições à frente do Brasil no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que calcula e compara o bem-estar de populações de diferentes países do mundo.
Mídia
Educação, no entanto, não é sinônimo de informação. A mídia em Cuba ainda é totalmente controlada pelo governo. A TV estatal não dá lugar a vozes dissidentes e, além das novelas brasileiras, das quais os cubanos são grande fãs, exibem horas de programação com forte carga ideológica, como debates em que todos os participantes elogiam o governo ou outras formas de propaganda, como, por exemplo, tele-aulas de música em que se aprende a execução de canções como a Internacional Comunista.
Na clássica Rádio Relógio, emissora que transmite o noticiário e a hora certa a cada minuto, predominam notas oficiais - informações sobre medidas do governo ou a agenda do presidente Raúl Castro. O "Granma", maior jornal do país e porta-voz do Partido Comunista Cubano, reproduz seus discursos na íntegra.
“Tenho acesso a duas horas de internet por mês na minha universidade”, conta Javier*, um estudante de tecnologia de comunicações. “Dizem que é por motivo de segurança, mas não vejo muito bem que segurança seria essa”, comenta, numa tímida crítica ao controle que o governo faz da informação, que acaba fazendo de Cuba, mais que nunca, uma ilha. Bloqueios a sites específicos, como o buscador Google, são constantes, conta o universitário.
Javier conseguirá se formar engenheiro mesmo com seu pai ganhando US$ 25 por mês. O jovem parece conformado com o fato de que, uma vez com o diploma na mão, terá um salário equivalente a uma pequena fração do que teria em outro país. “Vamos esperando até que me paguem o quanto realmente vale meu trabalho”, diz.
Raúl Castro, pouco a pouco, vai ocupando o lugar do irmão. Muitos estabelecimentos públicos hoje ostentam a foto do novo presidente, mas não removeram a de Fidel, eterno líder da Revolução, que também enfeita o cartaz oficial de celebração do jubileu de ouro da derrubada de Fulgencio Batista.
*os nomes são fictícios
FONTE: G1