sábado, 19 de setembro de 2009

ESPECIAL: ORIENTE MÉDIO



Região das primeiras civilizações e berço do judaísmo, cristianismo e islamismo, o Oriente Médio tem uma longa história. É uma das histórias mais trágicas e fascinantes da humanidade.

Estrategicamente localizada entre Europa, Ásia e África, por suas terras estenderam-se os maiores impérios da História como o persa, macedônico, romano e mongol, até a islamização e arabização da região entre os séculos VII e VIII com Maomé e seus califas. Na idade média, ser civilizado era ser muçulmano. A ciência florescia na Espanha árabe. As trevas impostas pela Igreja encontravam resistência no mundo Islâmico. A filosofia greco-romana era traduzida por estudiosos muçulmanos: do grego para o árabe e do árabe para o latim. Desenvolveram estudos em astronomia, alquimia, medicina e matemática com tal êxito que, nos séculos IX e X, mais descobertas científicas foram feitas no Império Abássida do que em qualquer período anterior da história.

Como se explica que uma região de tamanho esplendor, encontra-se hoje numa situação tão crítica ?

Esse povo, que no passado distante já colonizou, encontra um cruel revés, na medida que no passado mais recente, foi também colonizado. Primeiro pelo império Otomano, substituído após a primeira guerra mundial pelo imperialismo franco-britânico. Some a essa breve retrospectiva o surgimento do petróleo como matéria-prima estratégica e a partilha da Palestina para formação de um lar nacional judeu.

Acho que já podemos começar a entender porque até hoje, o Oriente Médio ainda é considerado um "barril de pólvora".

A FRAGILIDADE DOS ESTADOS

A maioria dos Estados do Oriente Médio surgiram recentemente, sob influencia do imperialismo franco-britânico, com a queda do Império Turco-Otomano após a primeira guerra mundial em 1918. A fragilidade destes Estados reflete-se nas ameaças pela divisão da sociedade, cujas aspirações são frustradas por governos autoritários de tipo monárquico ( Jordânia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos) ou republicano (Síria, Iraque, Turquia, Iêmem).

Internamente, nesses Estados, a base de poder é limitada a um grupo local ou familiar, segundo princípio dinástico ou pelo encampamento das responsabilidades civis e militares por um grupo religioso, regional ou corporativo.

A POSIÇÃO DO ISLAMISMO

Os muçulmanos constituem 95% da população do Oriente Médio, na maioria sunitas, superados pelos xiitas no Irã (90%), no Iraque (55%) e no Líbano (35%). As exceções são Israel, onde 80% da população são judeus; o Líbano, que possuí 40% de cristãos (divididos em 11 confissões) e o Egito, com 8% de coptas. Com absoluta maioria de população muçulmana, muitos países do Oriente Médio concedem um papel oficial ao islamismo, tanto constitucionalmente (caso do Irã após a revolução islâmica em 1979) como no cotidiano privado e familiar.

Após a Segunda Guerra Mundial(1945), os países do Oriente Médio tentaram relegar a religião somente à esfera privada, através do nacionalismo pan-arabista, cujo maior líder foi o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser. Na década de 1970 as massas urbanas e a classe média se afastaram do nacionalismo, adotando o fundamentalismo islâmico, que consolidou-se como ideologia dominante nas últimas décadas do século XX.

CONFLITOS NA REGIÃO

O Oriente Médio permanece uma das áreas mais instáveis do mundo, devido uma série de motivos que vão desde a contestação das fronteiras traçadas pelo colonialismo franco-britânico, até mais recentemente, a proclamação do Estado de Israel na Palestina em 1948, o que de imediato provocou uma primeira guerra árabe-israelense, onde Israel conseguiu repelir um ataque dos países árabes limítrofes. Mais três guerras seguiram-se entre as décadas de 1950 e 1970.

Em 1956, o Egito de Nasser nacionalizou o canal de Suez, provocando um ataque por parte de França e Inglaterra e a invasão israelense no Sinai e na faixa de Gaza. As forças dos três países foram obrigadas a se retirar, sob pressão da ONU, dos Estados Unidos e da União Soviética. Em 1967 ocorreu a Guerra dos Seis Dias, na qual Israel atacou o Egito, a Jordânia e a Síria, numa ofensiva que lhe permitiu conquistar toda península do Sinai, até o canal de Suez, Gaza, Cisjordânia, Jerusalém e as colinas de Golã da Síria. Em 1973 durante o feriado judeu do Yom Kippur (Dia do Perdão), a guerra reiniciou-se, quando Egito e Síria fizeram uma ofensiva surpresa que encontrou um contra-ataque fulminante por parte de Isarael.

Contudo as últimas décadas do século XX, apontam uma efetiva saída diplomática para um conflito que parecia não ter fim . A Intifada, movimento de rebelião palestina nos territórios ocupados, iniciada em 1987, juntamente com as pressões internacionais e a ação diplomática da OLP, levaram Israel a propor uma iniciativa de paz em 1989 que previa a eleição de representantes palestinos nos territórios ocupados , encarregados de encaminhar negociações com o Estado judeu. Com a vitória dos trabalhistas em Israel nas eleições de 1992, liderados por Ysaac Rabin e Shimon Peres, foram iniciadas negociações bilaterais diretas, conduzidas em absoluto sigilo na Noruega, entre diplomatas israelenses e representantes da OLP, que resultaram pela primeira vez no reconhecimento mútuo palestino-israelense.

Em maio de 1994 o primeiro ministro israelense Ysaac Rabin e o lider da OLP Yasser Arafat assinaram no Cairo um acordo sobre a autonomia palestina na faixa de Gaza e Jericó. Paralelamente, e sempre com ajuda dos Estados Unidos, Israel tenta intensificar conversações de paz com outros países árabes. O assassinato de Rabin por um judeu de extrema direita em novembro de 1994, colocou em risco o processo de paz no Oriente Médio. O chanceler Shimon Peres assumiu o cargo de primeiro ministro e em meio a atentados de ambas as partes comprometeu-se em dar continuidade às negociações com a recém constituída Autoridade Nacional Palestina, presidida por Yasser Arafat. Entretanto, as eleições de outubro de 1996 deram a vitória apertada ao candidato do Likud (partido de direita reticente aos acordos de paz) Benyamim Netenyahu. Desde então, o processo de paz encontrou mais dificuldades, apesar das pressões internacionais contra a intransigência do novo governo e sua política de incentivo ao estabelecimento de novas colônias judaicas em territórios árabes ocupados.

O Oriente Médio também foi abalado pela guerra entre o Irã e o Iraque entre 1980 e 1988. Perdendo o controle de navegação no canal de Chatt al-Arab, principal escoadouro de sua produção petrolífera, e sentindo-se ameaçado pela revolução islâmica no Irã (55% dos iraquianos são muçulmanos xiitas), o Iraque invadiu o Irã em setembro de 1980. A guerra teve várias reviravoltas, inclusive com utilização de armas químicas, fazendo mais de um milhão de mortos, (600 mil iranianos) e deixando os países economicamente destruídos, embora ainda fortemente armados.

Apesar do acordo de cessar-fogo, o clima político da região continuou explosivo e, em 2 de agosto de 1990 as tropas iraquianas invadiram, ocuparam e anexaram o Kuwait (Guerra do Golfo) provocando a intervenção internacional com o aval do Conselho de Segurança da ONU, e a derrota do Iraque que ainda mais tarde, teve que aceitar a criação de zonas de exclusão aéreas, no sul, com maioria de xiitas e no norte, com maioria de curdos. Estes, formam nesse final de século, o maior grupo étnico sem Estado. Uma verdadeira nação sem país com mais de 25 milhões de pessoas espalhadas e discriminadas por vários países do Oriente Médio. Mais um fator de preocupação nesta região, tão castigada nas últimas décadas.

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