Num mundo em que a palavra “crise” se tornou tão global quanto a sua própria existência, o Brasil parece ser excepção à regra. De facto, alguns dados demonstram que, contra o que seria expectável, o país tens resistido às extremas dificuldades que vêm afectando economias teoricamente mais robustas.
Enquanto que no resto do mundo o crescimento médio do PIB baixou para 1%, no caso do Brasil apresentou um decréscimo de 5,4% para…3,5%. A inflação, que em tempos não muito longínquos era de 6%, ronda nesta altura os 4,5%.
A taxa de desemprego, que não pára de aumentar nos países ditos de “primeiro mundo”, cifrou-se no Brasil nos 7,9% em 2008, contra os 9,3% de 2007. De Novembro para Dezembro de 2008, a referida taxa baixou de 7,6% para 6,8%.
Por outro lado, a capacidade económica da generalidade da população Brasileira revela uma dimensão sem precedentes. A título de exemplo, e de acordo com a Associação Brasileira de Vendas Directas, o sector obteve um crescimento de 8,7% entre Outubro e Dezembro de 2008, tendo aumentado o número de revendedores em 7,2% relativamente a 2007. Outro bom exemplo é revelado pelos dados divulgados pela Volkswagen: nos últimos anos as vendas no Brasil aumentaram mais de 30%, enquanto que em países tradicionalmente consumidores, como os EUA e a Alemanha, se verificou uma quebra acentuada. Não admira, pois, que as previsões apontem para que o Brasil venha a ser ao longo dos próximos cinco anos o 6º destino preferido do investimento de empresas multinacionais.
Mas o que pode explicar esta resistência do Brasil à crise mundial? Bem, uma multiplicidade de factores.
Em primeiro lugar, os imensuráveis recursos naturais do país que, aliados ao investimento no seu aproveitamento e a uma agricultura moderna, colocam o país no top de produtores de praticamente qualquer produto que dependa da natureza. É o caso dos produtos agrícolas, do petróleo, do gás e do etanol, obtido a partir da cana-de-açúcar e tido como uma das fontes energéticas do futuro. E os níveis de produção não param de crescer…!
Depois, o Brasil apresenta 20 milhões de novos consumidores, o que, conjugado com a avalanche de crédito que vem sucedendo, estimula o crescimento económico do país.
Importante também foi a redução da dependência da economia Brasileira relativamente à Americana. Enquanto até há alguns anos atrás os EUA absorviam cerca de 27% das exportações do Brasil, hoje o valor cifra-se nos 15%, estando os restantes 85% bem distribuídos entre vários continentes. Assim, a crise que abalou fortemente os EUA, motor da economia mundial, teve menores impactos directos.
Extremamente relevantes são também as características da política económica Brasileira, estável e previsível. A consistência das medidas adoptadas ao longo da última década, bem como as reservas internacionais no valor de 200 biliões de dólares, possibilitam ao país usufruir de uma estabilidade e segurança invejáveis. Neste sentido, revelam-se de importância capital a existência de um Banco Central autónomo e a política de câmbio flutuante adoptada em 1999, que permite ao país ajustar os preços relativos de forma rápida e assim minorar o impacto de choques externos sobre os vencimentos e o emprego.
Por fim, são de referir as políticas monetárias que vêm sendo adoptadas com o intuito bem definido de resistir à crise mundial. É o caso da atenuação dos depósitos compulsórios exigidos pelo Banco Central, o que permite uma maior irrigação do sistema financeiro e, em especial, um maior investimento na agricultura, e é ainda o caso da utilização de parte das reservas cambiais para suprir de capital de giro os exportadores.
Todavia, e embora a situação seja bastante mais favorável ao Brasil do que à generalidade do mundo, o país não pode ignorar as ameaças de que é alvo: a própria crise financeira mundial, a inflação em alta na generalidade dos países, a queda no preço das mercadorias e a concorrência de outros mercados emergentes (como a Rússia, a China e a Índia).
Para prosperar, o Brasil deverá saber identificar as suas fraquezas, nomeadamente os gastos elevados do seu Governo, a baixa alfabetização da população, a taxa de desemprego que, embora tenha vindo a decrescer continua a alta, e o subaproveitamento de alguns recursos, tentando eliminá-las ou, pelo menos, atenuá-las.
Deverá ainda saber agarrar as oportunidades. Neste campo, a própria crise poderá ser benéfica, já que vem revelando o Brasil como um destino de investimento apetecível e um mercado de grandes dimensões, em expansão.
País de uma riqueza natural e cultural fantástica, o Brasil revela-se agora como um pólo potencial de riqueza financeira. Para concretizar o futuro próspero que lhe auguram os especialistas, e que, de resto, a crise tem confirmado como possível, o Brasil deverá considerar os aspectos políticos e financeiros globais, praticando a geoestratégia e nunca esquecendo que o seu maior compromisso é para com o seu povo.
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